Ele vinha andando pela rua Marechal Deodoro, com o pretexto único e simples de fotografar o que cruzasse seu caminho. Era uma tarde fria e chuvosa de pleno verão e tudo o que ele precisava fazer era bater algumas fotos para o seu curso de fotografia básico. Olhava descompromissadamente tudo a sua volta. Após alguns minutos de caminhada sem chuva, mas com a ameaça de, se deparou com uma casca de banana. Tão sozinha e tão expressiva. Tão abandonada quanto um orelhão que fora vítima de algum ato insólito de vandalismo.Um orelhão. Mas no chão de uma galeria? No chão, bem como a casca de banana caída, com a sutil diferença, porém, de chamar muito mais atenção de quem passasse perto. Do lado, um homem careca, tão solitário quanto, tornava a cena mais dramática. A mão no queixo denunciava: ele estava concentrado em algum pensamento, estava ausente. Em quê será que ele pensava? Parecia ignorar o orelhão ao seu lado.
Do segundo andar de uma galeria, ele analisava calmamente a geometria das paredes e procurava o melhor ângulo. Foi quando percebeu que um casal discutia a alguns metros dali. Sentiu uma espécie de vazio, parecia fome. Saudade. Aquele casal brigando fizera com que se lembrasse da sua namorada; mas não, claro que não lembrou das brigas. Lembrou da paz. Lembrou dos quilômetros que o separavam da sua maior paz. Quilômetros? Não foi preciso sequer um passo para que se juntasse a ela naquele exato momento. E então aproveitou a viagem para rever algumas fotografias antigas. Aquilo de eternizar um momento era fascinante.
Instantes depois percebeu onde estava realmente, fisicamente. Não estava vendo ninguém perto dele, não ouvia nada, só a voz dela, e lembrava daquela canção. Não entendia, mas era como se não estivesse em lugar algum: era assim que ele se sentia longe dela. Queria aproveitar e fotografar a saudade, depois revelar, colocar em um envelope e mandar para a casa dela. Talvez, concretizando em uma fotografia a fome que ele sentia dela, ele conseguisse se aliviar um pouco. Lá, atrás do sentimento, dos olhos, do pensamento, da fotografia. Por trás da metade pendurada no pescoço: lá estava a saudade.
Será que a pessoa que deixou aquela casca de banana no chão já sentiu tanta saudade como aquela que a fotografara sentia agora?
8 comentários:
vc me fez quase chorar...
vaca.
;D
escreve mt bem... fico de cara aki... ;O
;***
adôro.
Primeiramente, ADORO a Marecha. [precisava externar esse sentimento]
Segundamente, tenho uma frase a citar: "Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença."
De quem será? rsrs
Lembrei disso enquanto lia...
Terceiramente, será q eu conseguirei transmitir um sentimento tão peculiar como a saudade em uma foto? Ae brow, o meu quase xará mandou bem! Gostei.
Finalmente, vamo comer banana, geeeeeente! lol
Será q assim a saudade vai embora? Podia, né? Com uma simples banana, adeus saudade q fere, q machuca.
Esse seu "dom"...ainda te levará longe!
Nos leva longe...
Me identifico com o q vc escreve,parece q escreve pra mim.Isso é ser "poeta",colocar no papel não a tradução do sentimento, mas o q nos leva a sentir.
É uma honra ter o end do teu blog!!hehheh
amo-te
Já que a história é referenta a mim, não poderia deixar de comentar: adorei!! Ficou muito bom!
A Tchele tb adorou, mas isso depois ela fala por si mesmo.
Agora, a retribuição:
http://www.flickr.com/photos/thanius/2219457840/
Falarei por mim mesmA!
rsrsrsr
adorei!!!
se tivesse lido em conservatoria, talvez eu chorasse.... mas ja estava degustando o prato em questão!
ficou mt bom!!!
;D
"Degustando o prato em questão"?
Ui!
a pessoa que jogou a casca de banana nunca entenderia sua sensibilidade
;P
show o texto....
a.. "ela" talvez fosse a privacidade q ele naum tinha nunca....
bju!
já falei que eu adoro as coisas que vc escreve? Fazia tempo que não lia alguma coisa sua... me fez bem ler isso...
assim como parece ter feito para todos os outros que comentaram aqui!
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