Ele vinha andando pela rua Marechal Deodoro, com o pretexto único e simples de fotografar o que cruzasse seu caminho. Era uma tarde fria e chuvosa de pleno verão e tudo o que ele precisava fazer era bater algumas fotos para o seu curso de fotografia básico. Olhava descompromissadamente tudo a sua volta. Após alguns minutos de caminhada sem chuva, mas com a ameaça de, se deparou com uma casca de banana. Tão sozinha e tão expressiva. Tão abandonada quanto um orelhão que fora vítima de algum ato insólito de vandalismo.Um orelhão. Mas no chão de uma galeria? No chão, bem como a casca de banana caída, com a sutil diferença, porém, de chamar muito mais atenção de quem passasse perto. Do lado, um homem careca, tão solitário quanto, tornava a cena mais dramática. A mão no queixo denunciava: ele estava concentrado em algum pensamento, estava ausente. Em quê será que ele pensava? Parecia ignorar o orelhão ao seu lado.
Do segundo andar de uma galeria, ele analisava calmamente a geometria das paredes e procurava o melhor ângulo. Foi quando percebeu que um casal discutia a alguns metros dali. Sentiu uma espécie de vazio, parecia fome. Saudade. Aquele casal brigando fizera com que se lembrasse da sua namorada; mas não, claro que não lembrou das brigas. Lembrou da paz. Lembrou dos quilômetros que o separavam da sua maior paz. Quilômetros? Não foi preciso sequer um passo para que se juntasse a ela naquele exato momento. E então aproveitou a viagem para rever algumas fotografias antigas. Aquilo de eternizar um momento era fascinante.
Instantes depois percebeu onde estava realmente, fisicamente. Não estava vendo ninguém perto dele, não ouvia nada, só a voz dela, e lembrava daquela canção. Não entendia, mas era como se não estivesse em lugar algum: era assim que ele se sentia longe dela. Queria aproveitar e fotografar a saudade, depois revelar, colocar em um envelope e mandar para a casa dela. Talvez, concretizando em uma fotografia a fome que ele sentia dela, ele conseguisse se aliviar um pouco. Lá, atrás do sentimento, dos olhos, do pensamento, da fotografia. Por trás da metade pendurada no pescoço: lá estava a saudade.
Será que a pessoa que deixou aquela casca de banana no chão já sentiu tanta saudade como aquela que a fotografara sentia agora?